Dia do Entrudo, de Jean Baptiste Debret
O Carnaval é uma festa popular que antecede a Festa da Páscoa que é tão comemorada e vivenciada em nossa Escola, logo é bom conhecer sua história.
Carnaval do latim, "carnem levare" ou "carnelevarium". No bom e velho português, "tirar a carne". Para os cristãos ortodoxos, tempo de abstenção de carne em memória do Cristo. Para os foliões, são quatro dias de fantasia e batuques, longe do rigor da censura. Quase como se o sinônimo para 'carnaval' fosse 'vale tudo'.
A origem da festa, como a conhecemos hoje, tem um pé no sagrado, outro no profano e chega a ser tão antiga quanto a própria humanidade. Os historiadores falam em eventos populares parecidos no Mundo Antigo, especialmente no Egito, Grécia e Roma. Nesses dois últimos países, o nosso carnaval parece ter ido pegar inspiração no culto ao deus Dionísio (ou Baco, para os romanos), conhecido como deus do vinho, da alegria desmedida e da liberdade erótica.
É provável também que as mais importantes festas ancestrais do Carnaval possam ter sido as "saturnais", realizadas na Roma antiga em exaltação a Saturno, deus da agricultura. Na época dessa celebração, as escolas fechavam, os escravos eram soltos e os romanos dançavam pelas ruas. Havia até mesmo uma espécie de "bisavô" dos atuais carros alegóricos. Eles levavam homens e mulheres nus e eram chamados de carrum navalis, algo como "carro naval", pois tinham formato semelhante a navios. Alguns pesquisadores enxergam aí a origem da palavra carnaval. A maior parte dos especialistas, porém, acha que o termo vem de outra expressão latina: carnem levare, que significa "retirar ou ficar livre da carne".
Isso porque, já na Idade Média, essas velhas festividades pagãs foram incorporadas pela Igreja Católica, passando a marcar os últimos dias de "liberdade" antes das restrições impostas pela Quaresma. Nesse período de penitência para os cristãos (durante os 40 dias antes da Páscoa), o consumo de carne era proibido. A variação da data do Carnaval no calendário se deve justamente à ligação direta com a Páscoa - que, no hemisfério sul, sempre acontece no primeiro domingo após a primeira lua cheia do outono. Determinada a data do feriado cristão, basta retroceder 46 dias no calendário (40 da Quaresma mais seis da Semana Santa) para se chegar à Quarta-Feira de Cinzas. A comemoração do Carnaval adquiriu diferentes formas nos países católicos que mantiveram a celebração. No Brasil, foi grande a influência do "entrudo".
Na Idade Medieval, o período das festas profanas começava na noite dos Reis Magos (6 de janeiro) e se estendia até a quarta-feira de cinzas. Um verdadeiro mela-mela visceral. "Todos com casaca de seda a escorrer ovos, a cara empastada de sangue e lama, cobertos das maiores imundices e dos mais sórdidos desejos, corriam as ruas debaixo da saraivada dos pós de panelas, das laranjas de cheiro, da farinha, dos esguichos, dos ovos de gema, de toda água que jorrava das rótulas estreitas e dos postigos mouriscos...", enumera o redator Julio Dantas, num artigo de 1909, publicado na Gazeta de Notícias.
Quando os navegadores ibéricos aportaram na costa brasileira, no século XVII, e começaram a trazer negros escravizados junto à sua bagagem, terminaram introduzindo nas "terras que, em se plantando, tudo dá" (como bem descreveu Pero Vaz de Caminha) um novo costume: o carnaval, combinação do festival católico-romano com as celebrações exuberantes dos ancestrais africanos, transformou-se numa tradição viva entre a população brasileira.
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