Essas três aquisições, fundamentais para o desenvolvimento do homem, são frutos da atividade desse “homemmovimento”. Essa atividade não se resume a apenas executar movimentos musculares. Como um escultor que lapida e transforma a matéria bruta em obra de arte, o homem modifica o ar gerando formas plásticas exclusivas que, combinadas entre si, geram a fala.
Para isso não basta enviar o ar expirado para a laringe e produzir sons diferentes. Em cada fonema emitido há uma “intenção humana” que modifica o ar expirado e lhe dá uma determinada forma plástica que soa diferentemente. Assim, podemos dizer que ao falar estamos produzindo esculturas em fluência.
Comprovadamente pela ciência, descobriu-se que as formas dos sons da fala produzem concomitantemente determinados movimentos delicados no corpo do falante, movimentos não perceptíveis mas que afetam toda sua musculatura corporal, da cabeça aos pés. Constatou-se também que essas formas fonêmicas produzem os mesmos delicados movimentos no ouvinte, da cabeça aos pés, com uma defasagem de 40 ou 50 milissegundos.
Pode-se dizer que o ser humano inteiro ouve. Essa é apenas a primeira instância de se “ouvir a fala”. Posteriormente, o movimento supera a condição de atividade muscular e vai para o sistema rítmico do coração e do pulmão. Podemos observar que aí se produzem tensões e relaxamentos, aceleração e desaceleração dos ritmos naturais...
O movimento corporal transforma-se em movimento anímico e deixa de ser inconsciente para ser semiconsciente e atingir a região dos sentimentos oníricos. Num outro passo, o movimento da fala alcança o polo neurossensorial da cabeça, onde se transforma em movimento espiritual, aparecendo à consciência sob forma de conceito ou representação.
Como pudemos ver, a atividade da fala não tem como ponto de apoio a cabeça e sim o movimento inconsciente do corpo. A criança pequenina não está apenas “ouvindo” com os ouvidos a fala do adulto ao seu redor para depois tentar imitá-lo. Desde o início ela participa com seu corpo todo, bailando e acompanhando a corrente verbal do adulto. Nesse momento, ela imita os movimentos e não os sons.
Ao aprender a formar os sons a criança trabalha também a formação do cérebro, que, com isso, vai amadurecendo. É de fundamental importância para o adulto saber de sua responsabilidade quando fala com uma criança, pois sua fala atua sobre a corporalidade dela, influenciando as possibilidades de desenvolvimento anímico e espiritual.
Sônia Ruella
Fonoaudióloga e Educadora
Nenhum comentário:
Postar um comentário