segunda-feira, fevereiro 01, 2010

UM CAMINHO TERAPEUTICO DOS TRABALHOS MANUAIS

Um caminho terapêutico dos trabalhos manuais no processo psicopedagógico.

Atualmente vivemos numa sociedade obcecada pelo intelectualismo e pelas coisas prontas. Estamos na era dos “fast foods”, dos cartões magnéticos, do mundo virtual e de outras tarefas mecânicas.
Nossas mãos, em decorrência do avanço tecnológico, foram relegadas a apertar botões, contar dinheiro, pagar e levar a mercadoria para casa. Em decorrência disso estão aprisionadas e impedidas de expressarem seus verdadeiros potenciais, porém, esse processo torna o homem, vazio, improdutivo e incapaz de ser, de criar, e de estar integrado com a vida.
Todos esses aspectos afetam a vida das crianças, que na maioria das vezes são prejudicadas pelo excesso de estímulos (visuais e sonoros) e por sobrecarga de atividades.
O uso indiscriminado da televisão e dos jogos eletrônicos também “ilude” a criança e o jovem, principalmente no exercício da vontade e dos sentimentos.
Por todos esses motivos, as crianças exercitam menos a habilidade de criar e imaginar. Na verdade, elas sofrem de um amadurecimento precoce, o que conseqüentemente pode acarretar inúmeras dificuldades de aprendizagem, e ainda problemas físicos, emocionais e sociais.
As atividades manuais, principalmente as que utilizam fios (tricô, crochê e tecelagem), possuem imenso valor para o desenvolvimento sadio da criança, pois ela participa da própria criação, de cada etapa do processo: começo, meio e fim.
Ela visualiza o produto terminado e isso fortalece a vontade, a coordenação psicomotora, além de organizar emoções, ficando assim mais centrada.
O gesto de costurar, bordar, tecer, de estar fazendo um trabalho manual nos chama a atenção, pois ele sempre reúne as nossas mãos diante do coração (o órgão do afeto), para que então as agulhas e linhas gravem nos tecidos, os nossos sentimentos, os nossos pensamentos, o que realmente somos.
Segundo Rudolf Steiner (1861-1925), filósofo, cientista austríaco, e autor da Pedagogia Waldorf, “a criança precisa não somente saber que tem mãos, mas também ser conscientizada de que tem mãos.” Para ele, estas atividades contribuem para a autoconfiança da criança, para sua maturidade física, a flexibilidade de pensamentos, além da concentração, da sensibilidade, do equilíbrio, da motricidade, etc.
Dentro do processo psicopedagógico é fundamental apresentar à criança, o desenvolvimento das funções de aprendizagem, a partir de um trabalho criativo e expressivo. Este trabalho, possibilita condições para que se estabeleça uma relação diferenciada com o seu semelhante e com o mundo que o rodeia.
Para Cristina Alessandrini, psicopedagoga e arte-terapeuta, “a Psicopedagogia usa o fazer criativo como caminho da revelação das potencialidades, para que cada um se aproprie dos seus conhecimentos e desvele conteúdos ainda não contatados.”
Nesse caminho, a criança cria livremente, torna suas mãos úteis, exercita a percepção tátil, enfrenta desafios, e educa o seu ser a relacionar –se de forma significativa consigo mesma e com o aprender.
A grande maioria delas apresenta dificuldades para desenvolver a capacidade pensante e não se reconhece como autora de suas produções. No entanto, é preciso resgatar a autonomia dessas crianças, favorecer a sua autoria de pensar, produzir e de estarem conectadas com o pulsar da vida.
Percebo cada vez mais, como psicopedagoga, que os trabalhos manuais possibilitam às crianças a liberdade de se expressarem através das mãos...
A palavra mão, significa ação, princípio e doação.
É possível libertá-las da condição de aprisionadas.
Através desse processo terapêutico, as crianças aprendem a resgatar o poder criativo das mãos e impulsionam o desejo de aprender rumo a própria autonomia.
Elas vão conquistando a sua liberdade e a sua maturidade em todos os sentidos; vão “tecendo” suas próprias histórias com as suas mãos...
A intervenção psicopedagógica abre espaços de autoria o que conseqüentemente permitirá a obtenção do prazer e da alegria de aprender...
“Crianças que na juventude aprenderam a fazer coisas artísticas e úteis com suas mãos, tanto para os outros como para si próprias e de maneira que faça sentido para elas, quando adultas não estarão alheias à vida e a outros seres humanos. Elas serão capazes de estruturar e enriquecer produtivamente sua existência e sua convivência com outros homens de maneira artística e social.”


Hedwig Hawck E Lilian de Almeida Pereira (Pedagoga e Psicopedagoga)



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